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domingo, 6 de novembro de 2011

o vento terral
açoita o portão de casa
rompendo meu sono

***

belo amanhecer –
recostado na nogueira
meu sogro sozinho

***

fria esta manhã –
assim mesmo o caminhar
do casal de velhos

***

terreno baldio -
ali cresce o capim denso
e o lixo também

***

moscas zunindo -
aqui na varanda o calor
também é imenso

***

a roupa estendida
é brinquedo no varal -
para meu cachorro

***

no mês de novembro
vem cada vez mais com força –
o vento nordeste

***

ao cair da tarde
os homens bebem no bar
todo seu salário

***

ao entardecer -
quem consegue se mover
na beira do lago ?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

são vozes que vêm
do outro lado do rio -
junto com o vento

****

a grama bem alta
já se vê por todos cantos -
no jardim de casa

****

faz frio nesses dias
e se encolhe todo o cão -
no tufo de grama

****

o vento nordeste
castiga toda manhã -
o vôo da garça

****

pela porta aberta -
passa correndo o cachorro
com a bola furada

****

pela manhãzinha -
o quero-quero se cuida
do homem que passa

terça-feira, 25 de outubro de 2011

nesta manhãzinha
margeando o lago tranquilo -
os barcos vazios

****

belo pica-pau
subindo o poste da rua
na praça central

****

metidas na tarde
elas vêm brincar conosco -
as garcinhas brancas

****

quando a brisa sopra
fugindo da chuvarada
as garças se vão

****

o vento ciclone
vem com tanta força que -
fica ainda mais forte

terça-feira, 18 de outubro de 2011

envolta na névoa
a casa amarela fica
em minha memória

****

à margem da lagoa
casal de flamingos rosas
estão bem vestidos

****

na tarde que finda
o verdejante arrozal 
brilhante se curva

****

encosta do morro -
as bananeiras se estendem
até o céu profundo

****

nesta manhã quente
a raposinha atravessa
o breve aguaceiro

****

plátanos frondosos -
à beira da estrada fico
olhando prá eles

****

na tarde abafada
deitado sobre meus pés
meu cachorro dorme

sábado, 15 de outubro de 2011

céu azul profundo –
juntos em silêncio andamos
o cachorro e eu

****

brisa da manhã –
o reflexo dos salgueiros
nas águas do lago

****

este vendaval –
sob o teto da varanda
o cachorro se esconde

****

ao entardecer
à margem do rio eu fecho -
o casaco e os olhos

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

névoa da manhã –
um gavião carcará
na curva avistei

****

as ruas vazias -
com o vendaval acabou
a festa na praça

****

mesmo com o sol
pela manhã o cão fica –
todo encolhido

****

velha passarela –
à tarde as garças descobrem
o sol da estação

****

sopra o vento oeste –
na beira da praia o surfista
prepara a prancha

****

ao cheiro do mar
o sol vai mostrando as caras
na minha janela

****

todas as manhãs
as garças brancas na ponte -
à espera do sol

****

na nova estação
dias mais longos e claros
sobre a goiabeira

****

ao entardecer
do outro lado da lagoa
o sol vai caindo

****

cresce ao pé do Buda
a sombra do monte Fuji –
quadro da parede

****

este é meu segredo:
elas me fazem chorar
as flores de gérberas

****

chega a ventania –
mudando de direção
a rosa dos ventos

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

banco do jardim –
o sorriso do meu sogro
ante o ipê-roxo

****

varal da vizinha –
o vento tenta levar
todas roupas dela

****

descanso tranquilo –
sob o viaduto o silêncio
desta tarde quente

****

canto do sabiá –
bate na minha vidraça
o sol da manhã

****

assovia o vento –
sobre a mesa da varanda
o olhar da gata

****

através da porta
são visíveis novamente –
amores-perfeitos

****

sobre esta calçada
as pegadas do meu cão
se fazem notar

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

depois do aguaceiro
amanhecida em silêncio
a gaivota pousa

****

na velha varanda
espreguiçadeira lembra -
as mesmas histórias

****

sob a chuva fina
escorregando pela escada
o meu cachorro

****

vento na varanda -
o silêncio de setembro
chegando ao fim

terça-feira, 27 de setembro de 2011

caminho de casa -
azaléias contempladas
por olhos brilhantes

****

sob um céu limpo
florescendo o ano todo -
amores-perfeitos

****

o jardim central
fica após todo o aguaceiro
bem mais colorido

****

no jardim de casa
a estação das flores
chegou para ficar

****

enxame de abelhas
sobre cachos-de-estrelas
invadem a tarde

sábado, 24 de setembro de 2011

ao amanhecer
neste dia sonolento -
percebo a azaléia

****

sob a escadaria
aguardando o vendaval -
cachorros aflitos

****

repentinamente
no gramado lá de casa -
o toró que cai

****

o céu mais cinzento
com a nova estação -
campos queimados

****

nova estação -
o capim em meio as pedras
já se mostra todo

****

folhas secas ainda
no gramado após a chuva -
pés de jambolão

****

já posso sentir
nos galhos do jambolão
o dia abafado

terça-feira, 13 de setembro de 2011

poema-pétalas

(poema dançarino)



esta estrada
onde o horizonte
 parece perto
segue sem rumo
paro o carro
olho para leste
lá onde o sol nasce
sobre o oceano
e daqui
das montanhas
a cidade fica longe

o céu
azul profundo
me remete às lembranças
de quando era criança
os dias estão
mais frios do que nunca
logo será noite
e as estrelas
aparecerão
acho que aqui ficarei
para tê-las comigo

- sentado estou -

a estrada vazia
e o sol se (ex)pondo
sobre uma pedra
ao longe um gavião
vai olhando tudo
em círculo(s) e veloz(es)
pássaros vão
rompendo os céus
de um lado a outro

não sei se terei
o meu céu estrelado
lá longe
as nuvens negras
e a lua
não aparecerá
para mim ou para você
logo irá chover

o som das cascatas
vai refrescando
 meus ouvidos
na subida da serra
onde subo
e sem pressa
a névoa
vai tomando conta
dos muitos canyons
e esta chuva
que ronda minha vida
é a mesma
que te ronda

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

pardais saltitando -
a nova estação chega
na minha varanda

****

ao sopro do vento
dissolvem-se no céu
as nuvens negras

****

nesta noite fria
o silêncio denuncia -
meus cachorros dormem

****

azaléias brancas -
oferecidas ao vento
enfeitam o jardim

****

todas as tardes
a ventania convida-se
a entrar em casa

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

a lua desapareceu no céu (poema para fukushima III)

a lua desapareceu no céu

( poema para fukushima III )


fio a fio
este tear entardece
as minhas unhas
na fria manhã
em meus (a)braços 
a brisa se espuma

o desafio:
em cada palavra
suspenso o vôo
penso
logo escrevo:
o que há dentro
do olho se o ocaso
 se esvai ?

indo
entre nuvens
vai a garça branca
enfileirando luas
as rugas
da lua são caminhos
 tecidos
pela tranquilidade

a idade
do tempo
é o pó que nos cobre
- feito um diamante -
o dia
 em silêncio
arde onde ando  
a contraventos

a cor dar
à brisa da manhã
com teus olhos
e meus dedos
tateiam o céu
das tuas tatuagens
com palavras

acho-me só
e aguardo o alvoroço
da goiabeira
nesta tarde-noite
o açoite do vento
me embala

e eu te abraço

terça-feira, 23 de agosto de 2011

lentamente cai
sobre o novo arrozal
a garoa fria

****

ruas vazias –
o aguaceiro espantou
todos os veículos

****

todas as manhãs
deixando as patas nas vidraças -
os meus cachorros

****

agora o temporal
mantém em silêncio -
os meus cachorros

****

algo me diz:
que com esta chuva toda
devo ir dormir...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

regresso -
muitas folhas na varanda
na noite gelada

****

entre as garças
ao final das docas
um homem sozinho

****

jardim de casa -
paira entre os ramos
a chuva de agosto

****

canteiro central -
as azaléias ocupam
o lugar que pertencem

****

pé de jambolão -
talvez a brisa me mostre
o voô dos pássaros

quarta-feira, 20 de julho de 2011

névoa úmida
sobre o jardim lá de casa
na manhã ainda escura

****

ao amanhecer
o céu ainda revela
estrelas tardias

****

docas vazias -
de um barco para outro
as gaivotas voam

****

barulho de chuva -
escurece mais e mais
o céu nas montanhas

****

sob o aguaceiro
o canto do quero-quero
 atravessa a tarde

****

após o aguaceiro
sobre o gramado boiam
restos de folhas

****

uma corruíra
saltita alegre na varanda
sob o frio cortante

****

é o velho barreiro
após a chuvarada
que volta gritando

****

entre as pedras
de apressados passos se esconde
a cobra verde

terça-feira, 12 de julho de 2011

gelada manhã -
uma cuia de chimarrão
seria bem-vinda

****

casas brancas -
imaculados também
os cimos dos montes

****

nesta fria manhã
de costas para o sol
eu podo a amoreira

****

murmúrios no céu –
as montanhas escondem
as nuvens de chuva

****

nesta tarde fria
onde vão os caranguejos
escavando a areia ?

****

toda a tarde
só o vento castigando
os pés de jambolão

****

tarde encurtada –
para fugir desse frio
meu cão corre muito

****

ainda folhas secas
ao balanço do vento caem
em meu jardim

****

entre os cômoros
ao som das grandes ondas
o tuco-tuco se mostra

****

tucano pousado
sobre o velho pinheiro –
onde fui parar

****

uma coruja sai
da janela mais alta
da igreja matriz

domingo, 10 de julho de 2011

no labirinto da solidão - poema para fukushima II

no labirinto da solidão


o  tronco
do pinheiro
é tudo o que me resta
nesta  estrada
vazia

a vibrante
andorinha anda
 rindo de mim
na varanda de pedra
onde inclinam-se
sob a chuva da tarde
 folhas da bananeira

um bem-te-vi
sobre o telhado
também olha  longe
de pés descalços
já sob a lua de julho
à beira do riacho
sinto o toque da brisa
entre
 raríssimos lírios
meus olhos de cristal
a inolvidável beleza
 que sobe o monte gelado
da casa amarela

em grande silêncio
onde o tronco do pinheiro
me (a)guarda
respiro incenso
e o tempo aqui começa
enluarando o céu
como se fosse além
entre os sentidos
dos sentidos
da garça alvíssima

agora
 a tarde
à beira do lago

- incendeia-se -

subitamente
balançam
ao salto das rãs
adormecidas
tulipas

a brisa
que se eleva
sobre o charco
de pedras roladas
na neblina
onde a memória
contempla a essência
  do salgueiro
como as nuvens
seiva que se mostra
única  ao  vôo
 da mariposa

à noite
o vento sopra mais
insípido
 e bêbado
e aqui estou
 como um pássaro
 encarnado
silhueta esbelta
sobre
 os ramos do pinheiro
num instante
 de vértebra

- o simples é esplêndido -

este precioso
canto do canário
nas altas copas
num (es)talo de grama
resta agora
 o estrídulo
do falante grilo
e um
 sorriso-mel
da abelha
 sobre a florbela
esta divina
 donzela

uma
borboleta sai
 sonhando em círculos
do bambuzal
pousando
sobre o alpendre
da minha varanda
já em penumbra
exposta aos tendões
do amanhecer
cinzento este dia
e seco os campos
na fria paisagem

****

crepúsculo:
um fio de sol ainda
sobre todos os campos

****

vem a noite
que nos aproxima mais
e com ela o frio

****

céu estrelado -
e o sereno caindo
sobre este silêncio

****

velha nogueira -
vê-se restos de memória
ou quase nada

sexta-feira, 24 de junho de 2011

gelada manhã –
um toque a mais em tua mão
antes de eu partir

****

nesta manhã
brigando com o vento
meu rosto gelado

****

o nevoeiro vai
deixando a estação
nesta tarde fria

****

depois da chuva
cobrindo o gramado -
as últimas folhas

****

por entre as ruínas
após a tempestade -
o cão em silêncio

****

depois da chuva
só o vento assoviando
em meus ouvidos

****

ainda posso ver
neste último instante
as folhas que caem

****

balançam a rede
e os galhos da nogueira -
um breve cochilo

****

tão solitário
vai chegando aos poucos
o luar desta noite


****

frio amanhecer -
por entre os montes verdes
são as nuvens negras

****

ao amanhecer
nada vejo nesta estrada -
nem mesmo a estrada

segunda-feira, 6 de junho de 2011

sonho antigo:
tendo a noite como abrigo
a coruja ronda...

****

na ponta dos pés
prá não espantar o grilo
ando no gramado...

****

vento nordeste –
flutuam nas docas vazias
muitas gaivotas...

****

planando ao vento
se aproxima dos barcos
a gaivota faminta...

****

de nada adianta
tentar ouvir o canário –
vento nordeste...

****

tarde nublada –
o céu desaparece até
dos olhos do cão...

****

é o grasnar dos patos
em meio a densa neblina
através do riacho...

****

joão-de-barro pousa –
faz do telhado de casa
sua nova morada...

****

convés do barco –
uma gaivota examina
a garrafa vazia...

****

já sob a lua
há uma grande farra
no pé de jambolão...

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ao cair da tarde
são belos os caranguejos -
mesmo desajeitados...

****

café da manhã –
o que cantam os sabiás
no gramado de casa ?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

"poema para fukushima"

" poema para fukushima " 


como um relâmpago
o dia intenso
 aturde o céu
 sem
nuvens

lá fora 
o uivo do vento
e com o crepúsculo 
compartilho
 tudo isso

nesta tarde fria
a mesma garça
 mostra
os mesmos 
caminhos

na mesma tarde fria
o segredo
do crepúsculo
em silêncio
se revela:

ah ! o crepúsculo !
ao som do vento terral
 sentado contemplo:

- toda solidão -

e sob
um céu leitoso
quase invisível
e serena
a garça branca:

ah ! céu sem nuvens !
atrai meu olhar o luar
 sobre as montanhas

eis a lua cheia -
na próxima
saberei
se aqui vou estar

à noite
 as nuvens passam
 perto dos montes:

- é chuva agora -