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domingo, 10 de julho de 2011

no labirinto da solidão - poema para fukushima II

no labirinto da solidão


o  tronco
do pinheiro
é tudo o que me resta
nesta  estrada
vazia

a vibrante
andorinha anda
 rindo de mim
na varanda de pedra
onde inclinam-se
sob a chuva da tarde
 folhas da bananeira

um bem-te-vi
sobre o telhado
também olha  longe
de pés descalços
já sob a lua de julho
à beira do riacho
sinto o toque da brisa
entre
 raríssimos lírios
meus olhos de cristal
a inolvidável beleza
 que sobe o monte gelado
da casa amarela

em grande silêncio
onde o tronco do pinheiro
me (a)guarda
respiro incenso
e o tempo aqui começa
enluarando o céu
como se fosse além
entre os sentidos
dos sentidos
da garça alvíssima

agora
 a tarde
à beira do lago

- incendeia-se -

subitamente
balançam
ao salto das rãs
adormecidas
tulipas

a brisa
que se eleva
sobre o charco
de pedras roladas
na neblina
onde a memória
contempla a essência
  do salgueiro
como as nuvens
seiva que se mostra
única  ao  vôo
 da mariposa

à noite
o vento sopra mais
insípido
 e bêbado
e aqui estou
 como um pássaro
 encarnado
silhueta esbelta
sobre
 os ramos do pinheiro
num instante
 de vértebra

- o simples é esplêndido -

este precioso
canto do canário
nas altas copas
num (es)talo de grama
resta agora
 o estrídulo
do falante grilo
e um
 sorriso-mel
da abelha
 sobre a florbela
esta divina
 donzela

uma
borboleta sai
 sonhando em círculos
do bambuzal
pousando
sobre o alpendre
da minha varanda
já em penumbra
exposta aos tendões
do amanhecer

6 comentários:

  1. A maior de todas as lições que tenho aqui é que poesia é um estado de espírito.

    =)

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  2. Caro, Luiz Gustavo,
    pelo visto, tens um cenário privilegiado, hein! (digno dos sonhadores)
    Abraços Poéticos!

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  3. A trajetória do poema encanta demais. O incenso aromático atrai a garça que sobrevoa os céus. O perfume das flores faz submergir
    um novo ciclo de vida.

    Um abraço.

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  4. ...como o coqueiro e enraizado na terra geme seu tronco ao vento alucinando a goiabeira da casa velha dentro do quartinho de telhado de amianto. tanto tempo a gente se olha e se guarda. dentro do olho outro olho depois do ocaso. entre os olhares o vasculhante aberto a manhã com suas garças sob outros telhados e o ocaso cintilando ninhas paredes dentro do quarto com aquele pó do tempo amarelado mais coisa mágica linda que parece ouro caindo para fora de nossas ampulhetas...será mesmo tem sempre algo depois de qualquer coisa? E pra onde vão todas essas coisas depois que cai a tarde-noite? E pra onde vãos os sonhos quando a cor damos? Se tu me alvoroça goiabeira, das folhas e galhos caem lagartas de fogo, é fogo, viu!? Fogo de todas as cores e muitas caem no nosso cocoruto, pois é de ferver o juízo da gente, então será depois elas virarão borboletas saindo de nossas cabeças duras? Teu desafio me suspende no vôo de teu abraço, e tu_do me gira, gira.

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  5. hum, também tem um pássaro encarnado na pupila de meu olho, pássaro antigo a me gritar nas horas de vôo no entardecer dos dias, rosa-ouro que corta o céu por trás das folhas de coqueiros no fim de tarde-noite, sozinho ele mergulha e atravessa a minha sozinhez de ser. Sozinha eu faço solidão. Doceira de mão cheia e tem vez vazia mexendo o tacho de doce como feitiço com feitio de alegria, mas nem uma criança vem meter o dedo na doçura de minha solidão, no labirinto já peguei todos os minotauros, miniaturas de solidões, pra quem tem asas pode se fazer uns vôos para fora de nossos tediosos labirintos e encontrar cidades ilhas onde estão outros labirintos e grandes fios de arder as mãos, é bom porque nunca se sabe o caminho, nunca se sabe onde vai dar.
    Mas desde sempre tenho manias de dar em nada, o fio vai sendo tecido assim manhã após manhã, tarde após tarde, durante noites inteiras, e nessa rede que balança pendurada no nada a gente para pra descansar, fazer outros teares outros labirintos dentro de outros labirintos até se cansar e ficar tontos e provar do doce que ninguém é de ferro! Que ferro enferruja! Ser de seda, sede, água, pó e nada que é mais volúvel e macio próprio para labirintos.

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