Pesquisar este blog

sexta-feira, 11 de maio de 2012

poemas mínimos



o sol –
tecido nos olhos
o ipê-amarelo

*

a noite –
teceu no céu
muitas estrelas

*

hortelã –
o cheiro da varanda
nesta manhã

*

na rua –
a árvore se arvora
ao ver-se nua

*

o arrepio –
quando cai a noite
e vem o frio

*

a praia –
a tarde se arrasta
no rabo da arraia

*

o canto
da álacre cigarra –
parece guitarra

*

o mar –
a onda sobre a areia
a desmaiar

*

o estalo –
na tarde entrevada
chuva sobre o telhado

*

o vento –
esfarpa e dobra
o álamo amarelo

*

a cigarra –
na tarde-noite
endiabrada

*

a lua cheia –
em silêncio no céu
já clareia

*

o nenúfar –
sobre o lago a flor se desnuda
para meditar

*

o vento passa
nas asas da libélula –
em silêncio

*

açucena-formosa –
arde esse instante
na cena de agora

*

o lago se escama
feito uma limalha –
vira lama

*

o equilíbrio –
aos olhos o vôo do colibrí
é um colírio

*

a paisagem –
o vento se espalha
na vida selvagem

*

como uma píton
o rio se contorce –
dentro do cânion

*

de repente o vento –
telhas do prédio vizinho
em nosso telhado

*

a lua maior –
revoada de garças
ao meu redor

*

o mistério –
será o som do rio que passa
pelo cemitério ?

*

o labirinto –
na solidão da noite
o dia já foi extinto

*

o silêncio soa –
como um velho sapo
na lagoa

*

a estrela –
este grilo estrila
para a abelha ?

*

o segredo –
um par de asas se agita
na ponta do dedo

*

beleza à vista –
em meio a névoa
revela-se a tulipa

*

meio-dia –
a meia-lua distante
já se anuncia

*

a treva –
a libélula sem vida
sobre a pedra

*

o orvalho –
nos ciprestes do caminho
e dentro dos olhos

*

o pirilampo –
prá lá e prá cá na redoma
é um encanto

*

o escorpião –
em outubro a primavera
na pele já é verão

*

a luz –
o céu azul profundo
ecoa ao longe

*

o fim do dia –
num talo de grama
o vento se enfia

*

a flor de cereja –
uma gota se recolhe
nesta folha – veja !


Um comentário: