quase invisível
na parede de casa
a borboleta branca
****
persistente chuva –
afundo meus ouvidos
nos uivos do vento
****
ainda à procura
de um córrego cheio
o martim-pescador
****
esta cigarra -
como inserí-la no silêncio
desta tarde ?
****
apenas uma cigarra
cantando lá em casa –
deixe-a cantar
****
fim da estação –
cobrindo toda calçada
as folhas em queda
****
ao anoitecer
a luz do dia ainda
é tão brilhante
****
caminho de casa -
alguém vai descascando
algumas laranjas
****
jardim de casa –
já ouço o som da grama
sob meus pés
Há um gigante a cada três versos. E sempre venta. Como se ventasse sempre muito forte. Se ventar sempre forte assim, há uma calmaria de acostumar-se. Como se acalmasse sempre muito forte.
ResponderExcluirHá tanta beleza em tão poucas palavras. Lindos haicais! Um abraço
ResponderExcluires bueno dormir
ResponderExcluircon la lluvia sonando
en la ventana
besos*
Ótimos haicais, Luiz! Deixo este de lembrança:
ResponderExcluirnão ouço meus passos
entre as pinhas e a caruma —
cochicham as folhas
na parede de casa os hieróglifos que tu me lambes com língua de mandrágora até eu remordo internas mandíbolas a bochechar palavras na ponta dos teus dedos introduzidos na minha boca com lunáguas cravadas de dentes...
ResponderExcluirna parede de casa as unhas e os sóis poentes e o corpo derramando-se etéreoxigênio inflamado como um arco-íris neonascente...
na parede de casa foguetes, flores, bichos em extinção, nuvens-carruagens, nuvens-casas, nuvens-bocas, nuvens-mandalas, muitas nuvens-não, escrituras gastas, amoníacas palavras, e a pintura mais que afundada, os fantasmas, as vozes, o colo encruado, os mortos, nas paredes as perdas e as perdas as faltas, asfaltos, os nadas, as rezas, as mazelas, as ladainhas, o latir de meus cães, o tinir das panelas frias, o choro de meninas e mulheres em sangue e vômito... meus olhos na parede de casa, meu corpo esmoído de tempo e temperatura alta-baixa como um termômetro pendurado e empoeirado estoirando o ouro da fase moinho ao vento, na parede da casa o suor do braço, os sonhos entijolados e a argamassa trazida com o peso do bastardo feito de brasilisboa... na parede da casa o cascalho da noite cobrindo as crianças em seus profundos soluços e silêncios e sonhos acordados com sarabandas e salamandras queimando a face...
na parede de casa minha fome e sede incansável de madrugada e de_pare! na parede da casa o gemer da dor dos ocos e do roer dos ossos e dos destroços do pássaro de ferro sobrevoando a noite com grilhões de veludo... na parede da casa velha o verdever_te!
Na parede da casa o haicai uma incógnita a casa sublime em construção.
no jardim de casa a canção da cigarra alegrando o cair da noite e avisando que o tempo acaba, as lesmas atravessando a noite e perpassando os passos da menina com olhos de amêndoa doce, no jardim os brinquedos feitos à mão do tempo imponderável, o varal da mãe as ferramentas do pai e folhas rasgadas soltas como pálpebras sem olhos e todas as estrelas apenas como ciscos no céu que anunciador de parir amanhãs... o jardim de empoleirar sonhos cantar de galo na alvorada abrir o peito esgarçar-se a frente e em lonjuras de léguas e línguas, estiraçar-se e um mundo sem des_tino nem lugar, aqui no jardim que me carrega tempestação eu te crisântemo e te cravo jasmim!
ResponderExcluir