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quarta-feira, 20 de julho de 2011

névoa úmida
sobre o jardim lá de casa
na manhã ainda escura

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ao amanhecer
o céu ainda revela
estrelas tardias

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docas vazias -
de um barco para outro
as gaivotas voam

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barulho de chuva -
escurece mais e mais
o céu nas montanhas

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sob o aguaceiro
o canto do quero-quero
 atravessa a tarde

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após o aguaceiro
sobre o gramado boiam
restos de folhas

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uma corruíra
saltita alegre na varanda
sob o frio cortante

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é o velho barreiro
após a chuvarada
que volta gritando

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entre as pedras
de apressados passos se esconde
a cobra verde

terça-feira, 12 de julho de 2011

gelada manhã -
uma cuia de chimarrão
seria bem-vinda

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casas brancas -
imaculados também
os cimos dos montes

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nesta fria manhã
de costas para o sol
eu podo a amoreira

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murmúrios no céu –
as montanhas escondem
as nuvens de chuva

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nesta tarde fria
onde vão os caranguejos
escavando a areia ?

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toda a tarde
só o vento castigando
os pés de jambolão

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tarde encurtada –
para fugir desse frio
meu cão corre muito

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ainda folhas secas
ao balanço do vento caem
em meu jardim

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entre os cômoros
ao som das grandes ondas
o tuco-tuco se mostra

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tucano pousado
sobre o velho pinheiro –
onde fui parar

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uma coruja sai
da janela mais alta
da igreja matriz

domingo, 10 de julho de 2011

no labirinto da solidão - poema para fukushima II

no labirinto da solidão


o  tronco
do pinheiro
é tudo o que me resta
nesta  estrada
vazia

a vibrante
andorinha anda
 rindo de mim
na varanda de pedra
onde inclinam-se
sob a chuva da tarde
 folhas da bananeira

um bem-te-vi
sobre o telhado
também olha  longe
de pés descalços
já sob a lua de julho
à beira do riacho
sinto o toque da brisa
entre
 raríssimos lírios
meus olhos de cristal
a inolvidável beleza
 que sobe o monte gelado
da casa amarela

em grande silêncio
onde o tronco do pinheiro
me (a)guarda
respiro incenso
e o tempo aqui começa
enluarando o céu
como se fosse além
entre os sentidos
dos sentidos
da garça alvíssima

agora
 a tarde
à beira do lago

- incendeia-se -

subitamente
balançam
ao salto das rãs
adormecidas
tulipas

a brisa
que se eleva
sobre o charco
de pedras roladas
na neblina
onde a memória
contempla a essência
  do salgueiro
como as nuvens
seiva que se mostra
única  ao  vôo
 da mariposa

à noite
o vento sopra mais
insípido
 e bêbado
e aqui estou
 como um pássaro
 encarnado
silhueta esbelta
sobre
 os ramos do pinheiro
num instante
 de vértebra

- o simples é esplêndido -

este precioso
canto do canário
nas altas copas
num (es)talo de grama
resta agora
 o estrídulo
do falante grilo
e um
 sorriso-mel
da abelha
 sobre a florbela
esta divina
 donzela

uma
borboleta sai
 sonhando em círculos
do bambuzal
pousando
sobre o alpendre
da minha varanda
já em penumbra
exposta aos tendões
do amanhecer
cinzento este dia
e seco os campos
na fria paisagem

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crepúsculo:
um fio de sol ainda
sobre todos os campos

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vem a noite
que nos aproxima mais
e com ela o frio

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céu estrelado -
e o sereno caindo
sobre este silêncio

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velha nogueira -
vê-se restos de memória
ou quase nada