no labirinto da solidão
o tronco
do pinheiro
é tudo o que me resta
nesta estrada
nesta estrada
vazia
a vibrante
a vibrante
andorinha anda
rindo de mim
na varanda de pedra
onde inclinam-se
sob a chuva da tarde
folhas da bananeira
um bem-te-vi
um bem-te-vi
sobre o telhado
também olha longe
de pés descalços
já sob a lua de julho
à beira do riacho
à beira do riacho
sinto o toque da brisa
entre
raríssimos lírios
meus olhos de cristal
a inolvidável beleza
que sobe o monte gelado
a inolvidável beleza
que sobe o monte gelado
da casa amarela
em grande silêncio
em grande silêncio
onde o tronco do pinheiro
me (a)guarda
respiro incenso
respiro incenso
e o tempo aqui começa
enluarando o céu
como se fosse além
como se fosse além
entre os sentidos
dos sentidos
da garça alvíssima
agora
a tarde
agora
a tarde
à beira do lago
- incendeia-se -
subitamente
- incendeia-se -
subitamente
balançam
ao salto das rãs
adormecidas
tulipas
a brisa
a brisa
que se eleva
sobre o charco
de pedras roladas
na neblina
onde a memória
onde a memória
contempla a essência
do salgueiro
como as nuvens
como as nuvens
seiva que se mostra
única ao vôo
da mariposa
à noite
à noite
o vento sopra mais
insípido
e bêbado
e aqui estou
e bêbado
e aqui estou
como um pássaro
encarnado
silhueta esbelta
sobre
sobre
os ramos do pinheiro
num instante
de vértebra
- o simples é esplêndido -
este precioso
- o simples é esplêndido -
este precioso
canto do canário
nas altas copas
num (es)talo de grama
num (es)talo de grama
resta agora
o estrídulo
o estrídulo
do falante grilo
e um
sorriso-mel
e um
sorriso-mel
da abelha
sobre a florbela
esta divina
donzela
uma
borboleta sai
uma
borboleta sai
sonhando em círculos
do bambuzal
pousando
pousando
sobre o alpendre
da minha varanda
já em penumbra
exposta aos tendões
do amanhecer
A maior de todas as lições que tenho aqui é que poesia é um estado de espírito.
ResponderExcluir=)
Caro, Luiz Gustavo,
ResponderExcluirpelo visto, tens um cenário privilegiado, hein! (digno dos sonhadores)
Abraços Poéticos!
A trajetória do poema encanta demais. O incenso aromático atrai a garça que sobrevoa os céus. O perfume das flores faz submergir
ResponderExcluirum novo ciclo de vida.
Um abraço.
...como o coqueiro e enraizado na terra geme seu tronco ao vento alucinando a goiabeira da casa velha dentro do quartinho de telhado de amianto. tanto tempo a gente se olha e se guarda. dentro do olho outro olho depois do ocaso. entre os olhares o vasculhante aberto a manhã com suas garças sob outros telhados e o ocaso cintilando ninhas paredes dentro do quarto com aquele pó do tempo amarelado mais coisa mágica linda que parece ouro caindo para fora de nossas ampulhetas...será mesmo tem sempre algo depois de qualquer coisa? E pra onde vão todas essas coisas depois que cai a tarde-noite? E pra onde vãos os sonhos quando a cor damos? Se tu me alvoroça goiabeira, das folhas e galhos caem lagartas de fogo, é fogo, viu!? Fogo de todas as cores e muitas caem no nosso cocoruto, pois é de ferver o juízo da gente, então será depois elas virarão borboletas saindo de nossas cabeças duras? Teu desafio me suspende no vôo de teu abraço, e tu_do me gira, gira.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirhum, também tem um pássaro encarnado na pupila de meu olho, pássaro antigo a me gritar nas horas de vôo no entardecer dos dias, rosa-ouro que corta o céu por trás das folhas de coqueiros no fim de tarde-noite, sozinho ele mergulha e atravessa a minha sozinhez de ser. Sozinha eu faço solidão. Doceira de mão cheia e tem vez vazia mexendo o tacho de doce como feitiço com feitio de alegria, mas nem uma criança vem meter o dedo na doçura de minha solidão, no labirinto já peguei todos os minotauros, miniaturas de solidões, pra quem tem asas pode se fazer uns vôos para fora de nossos tediosos labirintos e encontrar cidades ilhas onde estão outros labirintos e grandes fios de arder as mãos, é bom porque nunca se sabe o caminho, nunca se sabe onde vai dar.
ResponderExcluirMas desde sempre tenho manias de dar em nada, o fio vai sendo tecido assim manhã após manhã, tarde após tarde, durante noites inteiras, e nessa rede que balança pendurada no nada a gente para pra descansar, fazer outros teares outros labirintos dentro de outros labirintos até se cansar e ficar tontos e provar do doce que ninguém é de ferro! Que ferro enferruja! Ser de seda, sede, água, pó e nada que é mais volúvel e macio próprio para labirintos.