poemas mínimos
o sol –
tecido nos olhos
o ipê-amarelo
*
a noite –
teceu no céu
muitas estrelas
*
hortelã –
o cheiro da varanda
nesta manhã
*
na rua –
a árvore se arvora
ao ver-se nua
*
o arrepio –
quando cai a noite
e vem o frio
*
a praia –
a tarde se arrasta
no rabo da arraia
*
o canto
da álacre cigarra –
parece guitarra
*
o mar –
a onda sobre a areia
a desmaiar
*
o estalo –
na tarde entrevada
chuva sobre o telhado
*
o vento –
esfarpa e dobra
o álamo amarelo
*
a cigarra –
na tarde-noite
endiabrada
*
a lua cheia –
em silêncio no céu
já clareia
*
o nenúfar –
sobre o lago a flor se desnuda
para meditar
*
o vento passa
nas asas da libélula –
em silêncio
*
açucena-formosa –
arde esse instante
na cena de agora
*
o lago se escama
feito uma limalha –
vira lama
*
o equilíbrio –
aos olhos o vôo do colibrí
é um colírio
*
a paisagem –
o vento se espalha
na vida selvagem
*
como uma píton
o rio se contorce –
dentro do cânion
*
de repente o vento –
telhas do prédio vizinho
em nosso telhado
*
a lua maior –
revoada de garças
ao meu redor
*
o mistério –
será o som do rio que passa
pelo cemitério ?
*
o labirinto –
na solidão da noite
o dia já foi extinto
*
o silêncio soa –
como um velho sapo
na lagoa
*
a estrela –
este grilo estrila
para a abelha ?
*
o segredo –
um par de asas se agita
na ponta do dedo
*
beleza à vista –
em meio a névoa
revela-se a tulipa
*
meio-dia –
a meia-lua distante
já se anuncia
*
a treva –
a libélula sem vida
sobre a pedra
*
o orvalho –
nos ciprestes do caminho
e dentro dos olhos
*
o pirilampo –
prá lá e prá cá na redoma
é um encanto
*
o escorpião –
em outubro a primavera
na pele já é verão
*
a luz –
o céu azul profundo
ecoa ao longe
*
o fim do dia –
num talo de grama
o vento se enfia
*
a flor de cereja –
uma gota se recolhe
nesta folha – veja !
Todos encantadores.
ResponderExcluirMeus aplausos
Um abraço.